20090607

Curiosidades | ... relembrando a 'teoria do éthos'

Geography And History Shape Genetic Differences In Humans

"New research indicates that natural selection may shape the human genome much more slowly than previously thought. Other factors -- the movements of humans within and among continents, the expansions and contractions of populations, and the vagaries of genetic chance – have heavily influenced the distribution of genetic variations in populations around the world.

[...]

The researchers found that many previously identified genetic signals of selection may have been created by historical and demographic factors rather than by selection. When the team compared closely related populations they found few large genetic differences. If the individual populations' environments were exerting strong selective pressure, such differences should have been apparent. [...]" (ScienceDaily 7 June 2009)
Artigos relacionados:
  • Geography Predicts Human Genetic Diversity (Mar. 17, 2005)
  • Genome-wide Insights Into Patterns Of The World's Human Population Structures (May 18, 2009)
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A Harmonia das Esferas e a Teoria do Éthos


As ideias de uma alma do mundo (anima mundi, tal como Platão a descreve em O Timeu[i], ou de uma harmonia das esferas, macro cósmica, actuante e com efeitos no Homem (microcosmos), têm como percursoras (no âmbito da cultura ocidental) os trabalhos dos filósofos e pensadores pré – socráticos onde se destaca naturalmente o vulto de Pitágoras (c.570-500 a.C.), a quem se atribui a descoberta da expressão numérica dos intervalos da escala musical, definidos, então, como relações proporcionais que se encontram no cosmos, na natureza e na alma dos homens bons[ii]. Nesta perspectiva, às harmonias (modos[iii]), constituídas por relações intervalares proporcionais às do cosmos, corresponderiam características comportamentais e tipos de personalidade específicos. Estes princípios, desenvolvidos pelos Pitagóricos dos séculos seguintes, preconizaram a célebre teoria do éthos[iv], baseada nas ideias de que: a música de uma nação expressa o carácter do seu povo[v] e; os sons, decorrentes das vibrações de cada planeta, influenciam o comportamento humano. Para Dâmon de Atenas, mestre de música ateniense, do século V a.C., que se dedicou às relações entre a ética e a música, tanto era verdade que a boa música criava almas boas, como o inverso:
(…) deve ter-se cuidado com a mudança para um novo género musical, que pode pôr tudo em risco. É que nunca se abalam os géneros musicais sem abalar as mais altas leis da cidade, como Dâmon afirma e eu creio (Platão, A República, 424b-c).
Tanto Platão como Aristóteles mostraram apreensão acerca dos efeitos de determinados tipos de harmonias, pelo que, se detiveram de forma pormenorizada na análise do tipo de música – modos, ritmos e instrumentos – que poderiam ser permitidos numa civilização ideal. Em A República, Platão, estabelece diferenças entre vários tipos de harmonias e seus efeitos e define os tipos de música que deveriam ser permitidos numa civilização ideal. No volume V de A Política, Aristóteles associa estados anímicos tais como dor ou embriaguez, entre outros, aos diversos modos da música grega i.e. pressupondo que cada ritmo, cada som ou escala teriam o seu éthos[vi] respectivo.

Em resumo, atentando nos pressupostos da teoria do éthos i.e., na ideia que a música pode afectar o carácter e que os diferentes tipos de harmonia (modos) têm sobre ele efeitos diferentes encontramos a essência das ideias que preconizam a actual musicoterapia.

Notas:
[i] Em O Timeu (c. 360 a.C.) Platão descreve a sua concepção sobre a criação da “Alma do Mundo” através de uma espécie de monocórdio celestial (F. Freitas, Op. Cit., p. 1562).
[ii] Sparshott & Goehr, “Historical survey, antiquity – 1750: Hellenic and Hellenistic thought” (Grove Music Online, ed. L. Macy. Disponível em: http://www.grovemusic.com [MAR 2004]).
[iii] “O conceito de harmonia para os gregos detinha uma significação alargada. Do ponto de vista da doutrina pitagórica dos números, a harmonia exprimia a relação das partes com o todo implicando o conceito matemático de proporção (…). Do ponto de vista musical, harmonia significava uma sucessão de sete notas ordenadas e constituíam-se em sete espécies “… a mixolídia ou lídia mista, lídia (que se identifica com a sintonolídia do texto), hipolídia, frigia, hipofrígia ou iónia, dória, hipodória (talvez idêntica à eólia). Esta última não é mencionada por Platão” (…). As «harmonias» ou modos musicais gregos têm o seu equivalente moderno mais próximo nas nossas escalas maiores e menores (…)” (Azevedo, A. M. “A música como expressão e representação juvenil: entre o normal e o patológico”, Tese de mestrado. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2005, p.17).
[iv] “Etimológicamente, «êthos significa originariamente en griego morada habitual (de los animales), y de donde deriva éthos (la primera palabra con éta y ésta con épsilon: êthos y éthos) que es lo habitual o hábito. Êthos es un plexo de actitudes o una estructura modal de habitar el mundo» (Dussel, 1973:8 apud A.M. Azevedo, Op.Cit. p.19).
[v] “(…) national music expressed national character or éthos” in Sparshoot & Goehr, “Historical survey, antiquity - 1750: Hellenic and Hellenistic thought” (Grove Music Online, ed. L. Macy. Disponível em: [MAR 2004]).
[vi] J. I. P Sanz, “El concepto de musicoterapia a través de la historia” (Revista Interuniversitaria de Formación del Profesorado, Monográfico Musicoterapia, nº 42, Dec. de 2001, pp.19-31, disponível em http://musica.rediris.es/leeme/ [FEV 2006]).

Referências:
  • Azevedo, A. M. (2006). Sobre a origem e a natureza da música … a propósito da musicoterapia. Biosofia, 28, 46-50.
  • Public Library of Science. "Geography And History Shape Genetic Differences In Humans" ScienceDaily 7 June 2009. 7 June 2009.

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