" Houve um tempo em que os cegos não iam à escola, viviam como mendigos profissionais.Expulsos de casa quando ainda meninos e tidos como seres malditos, era comum serem alugados para pesados serviços de carga.
Muitas vezes o cego era vendido a uma fábrica na qual, durante toda a vida, dormia no chão ou amontoava pilhas de esterco para os que negociavam com essa mercadoria. Não havia leis para os cegos. De e fato, eles não faziam parte da humanidade.
Alguns ainda conseguiam ganhar pequeno sustento ingressando em companhias de palhaços. Vagavam de uma cidade para outra através da Europa, ridicularizando sua própria infelicidade e provocando o riso alheio.
Nas feiras quase havia um bando de cegos de chapéu pontudo formando uma orquestra muda.O "maestro" agitava no ar um pedaço de cabo de vassoura diante de uma folha de música. Alguns estufavam as bochechas ou fingiam tocar, com pedaços de pau, violinos sem corda. Os transeuntes atiravam moedas quando o "maestro" batia nos componentes da orquestra com o pau da vassoura. Gargalhada geral. O espetáculo, embora cruel, era banal e ninguém se impressionava ou comovia com ele. Tudo isso acontecia porque ainda não se sabia como integrar os cegos na sociedade. Não havia lugar para eles, eis a dura verdade.
Perto de Paris , na aldeia de Copyray , vivia um seleiro muito respeitado. Seu filho , Louis Braille , de 3 anos , gostava de acompanhar o trabalho do pai. Brincava com pedaços de couro enquanto mantinha a sovela , um instrumento perigoso, bem perto do rosto. Um dia, por descuido, ela resvalou na superfície dura e atingiu os olhos do menino, cegando-o para sempre.
Ao completar 10 anos, Louis pediu aos pais que o matriculassem numa escola para cegos que havia em Paris. "Quem já ouviu dizer que uma criança cega vá à escola, você está doido? ",perguntou o pai.E,para tranquilizar o menino, disse orgulhosamente:"Não tenha receio, você não será mendigo.O vigário há de ajudá-lo a achar alguma colocação na igreja".
Mas o pequeno não estava nada louco. Um advogado lhe garantira que em Paris havia uma escola para meninos cegos."Papai ,eu lhe suplico!Os cegos são as criaturas mais solitárias do mundo.Aqui casa eu posso distinguir um pássaro do outro pelo canto, mas jamais poderei aprender o que existe fora de meu ouvido e do meu tato.Só me libertarei com os livros!"
Louis coseguiu.Em Paris, desenvolveu o sistema que leva o seu nome:seis pontos em relevo,dispostos em duas colunas paralelas,o que permite obter 63 combinações diferentes graças às quais as pessoas cegas podem ter acesso à leitura e à escrita em suas respectivas línguas.Tão perfeita é a "celula Braille" que ela se aplica a toda forma de conhecimento humano, em áreas tão diversas como a Matemática,
a Física, a Quimica e a Música.
Quando a parteira disse que o menino era cego, todos choravam menos D.Marinha, que prometeu fazer dele "um homem sem complexos e preparado para a vida".
João Tomé foi educado como os outros meninos, cuidou de hortaliças, limpou quintal, apanhou lenha, varreu chão e carregou lata dágua. Aos 10 anos de idade aprendeu a tocar viola, passando a animar todos os bailes com sua música.
Tornou-se profissional em violão, cavaquinho, flauta e bandolim. Participou de vários conjuntos e tocou em boates, igrejas e procissões. Numa festa de formatura, encantou-se pela voz de uma mulher que perguntou o nome da valsa que acabara de executar. Naquela noite apaixonou-se por Vera, casou com ela e criou família. Ficou famoso como João-Faz-Tudo, foi professor da Fundação Educacional e músico da Rádio Nacional. Morreu realizado,feliz.
Dolores Tomé é filha de João Tomé. Estimulada pelo exemplo paterno, interessou-se por música. Disseminar essa bela e múltipla experiência doméstica, eis o desafio de Dolores. Ela sabia que a audição, o tato, o olfato e o paladar, embora auxílios valiosos para os cegos, Não são compensação sensorial para quem perde a visão. O cego não é dotado de capacidades invulgares nem possui memória extraordinária. O que é simples condicionamento para as pessoas videntes, significa árdua conguista para o cego.
Também vocacionada para o magistério, Dolores resolveu dedicar a vida ao ensino de música para os cegos, a fazer com que eles possam fazer e impregnar-se da mais belas das artes, aquela que não conhece barreiras de idiomas e que, para muita gente boa, é a forma como Deus se comunica com os homens.
Fundadora do Clube do Choro e uma das flautistas mais requisitadas da cidade, Dolores é professora da Escola de Música de Brasília, onda coordena o ensino de musicografia braille para alunos cegos. Enfrentou dificuldades e incompreensões, mas conseguiu afirmar-se nesse campo tão difícil, reservado a pessoas de espírito verdadeiramente superior e generoso.
Alimenta-se de música e se comove com as vitórias de seus alunos. Afinal ela lhes transmite paz e luz através da música. Ao conhecê-la, fica uma certeza: como seria maravilhosa a multiplicação de dolores tomés por este mundo insensato!l" (Dolores Tomé | Musicografia Braille)
20090504
'Olhos cegos fazem música'
Fonte: EDUK
Palavras-chave
Cegos,
Dedicado a Beth EW,
Depoimentos,
Musicografia Braille
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