20100601

Polémico ... na minha perspectiva enquanto musicoterapeuta. Mas ... é Portugal! Fica assim e é um luxo!!!

Por falta de tempo e por necessitar de tempo, leia-se inspiração, para fundamentar algumas ideias que me assolam, deixo, na íntegra o que li em Música no Divã [2010-05-30 | Por Manuela Matos Monteiro (texto e fotos)].

Se algum musicoterapeuta se quiser pronunciar ;-) Ou qualquer leitor :-)

Assim de repente, Sérgio Godinho está lá! ;-)

Até breve!

“Uma cirurgia é um espectáculo, uma performance”: esta afirmação ganha credibilidade quando proferida pelo neurocirurgião João Lobo Antunes (clique para ampliar)

Músicos, psicanalistas, maestros, psicólogos, cantores, psiquiatras, musicólogos e compositores reflectiram durante dois dias sobre a relação entre a música e a psicanálise. “Música no Divã” foi o tema de conferências e workshops que nos dias 28 e 29 aconteceram na Casa da Música, no Porto.

Depois da abertura oficial pelo comissário da conferência Júlio Machado Vaz, o psicanalista Jaime Milheiro iniciou a intervenção “Música e Psicanálise” com um excerto do “Purgatório” de Mahler, peça composta depois de uma conversa de 4 horas com Freud.

O conferencista avisa que vai “passar mais música para ‘desembaciar’ a intervenção”. Lembra que todos trauteamos músicas, que os nossos dias estão cheios de música e até em sonhos a música está presente. Para o psicanalista, ouvir música representa o “regresso a casa, à casa da música que é a voz da mãe, uma das mais caudalosas forças do universo”.

A música, presente em todas as culturas, acompanha os afectos e celebra a alegria de se estar vivo. Lembra que “gostar daquela música é sempre gostar de alguém e gostar de si”. Confessa que se sente “mais aconchegado” com o swing e os blues do que com os “Nocturnos” de Chopin. E, talvez por isso, a sua intervenção é interrompida duas vezes por Ella Fitzgerald e Aretha Franklin.


Filetes de polvo e arroz do mesmo

Por que razão a música e as drogas andam juntas? Foi a esta pergunta que o psicólogo Luís Fernandes procurou responder no workshop “Drogas e preferências musicais”, a partir da sua investigação de campo desenvolvida durante anos na Ribeira e no bairro do Aleixo. Recordou que a “trip” – alterações voluntárias da consciência associadas a substâncias psicoactivas – está presente em todas as sociedades.


Traçou o percurso das drogas em Portugal desde antes do 25 de Abril até aos nossos dias. Considera que os processos identitários da adolescência “passam muito pelo sentimento de ‘comunitas’ em que se podem misturar psicoactividade e música” (associação de um determinado tipo de música a um determinado tipo de substância).

Sérgio Godinho começou por esclarecer que o seu almoço muito portuense – filetes de polvo com arroz do mesmo acompanhado de vinho tinto – alterara o seu estado de consciência. A partir desta confissão, chama a atenção para a inadequação da palavra “droga” que “torna indistintas todas as drogas”.

A sua intervenção, sem ser confessional, remeteu várias vezes para as suas vivências pessoais, desmistificando a associação entre o uso de substâncias psicoactivas e a criatividade na produção musical. Teve oportunidade de referir a importância na sua formação autodidacta de Zeca Afonso, “uma estrela vinda do nada”. Numa outra sala decorreu o workshop “Relação professor/aluno” com intervenções do músico Pedro Burmester e do psiquiatra Rui Mota Cardoso.


O filho de Leopold Mozart

Júlio Machado Vaz desenvolveu ao longo da sua conferência o percurso turbulento de Wolfgang Mozart e do seu pai Leopold. As relações perturbantes e perturbadas de pai e filho foram objecto de reflexões em que não deixou de se perguntar “Como seria a obra de Mozart sem a relação atribulada com o pai?”. O musicólogo Paulo Ferreira de Castro foi o comentador de serviço que questionou e problematizou várias questões levantadas pelo psiquiatra.


A música e o cérebro

Numa época em que a imagiologia cerebral permite ver o cérebro em acção, o psicólogo norte-americano Stefan Koelsch procurou estabelecer relações entre música, emoção, expectativa e áreas cerebrais. Mostrou alguns dos seus estudos experimentais sobre os efeitos no cérebro de determinados excertos musicais e demonstrou, a partir de registos e imagens, que são diferentes as áreas cerebrais que respondem, por exemplo, às regularidades e às irregularidades musicais.

O compositor Emanuel Nunes aproveitou a sua intervenção para polemizar com o psicólogo enfatizando a complexidade do acto da criação musical e da sua fruição. O moderador Manuel Laranjeira aproveitou a oportunidade para esclarecer alguns aspectos do funcionamento cerebral na recepção e processamento da informação musical.

Numa outra sala decorreu simultaneamente o workshop “Música e paisagem” com intervenções do arquitecto Alexandre Alves Costa e do geógrafo Álvaro Domingues.


Da saúde das “orquestras”

“Uma cirurgia é um espectáculo, uma performance”: Esta afirmação ganha credibilidade quando proferida pelo neurocirurgião João Lobo Antunes. Para o justificar mostra fotografias de uma sala de operações em plena actividade, onde o cirurgião está rodeado pela sua equipa, e não hesita em comparar a situação com uma pequena orquestra de câmara em actuação.

São muitas as semelhanças entre as duas situações, mas “a cirurgia não é uma arte, não produz beleza”. Há, contudo uma flagrante proximidade entre o trabalho do cirurgião e, por exemplo, do maestro, sobretudo ao nível das emoções vividas antes, durante e depois das “performances” em que ambos são intérpretes. E não basta a técnica, é preciso muito mais!

O neurocirurgião, tal como o maestro, vencida a solidão daquele que decide, atinge “o extraordinário sentimento da beatitude”. Seguiram-se as intervenções de dois directores artísticos que cruzaram experiências num debate moderado por Júlio Machado Vaz.

A conferência terminou sob o olhar de Freud sempre presente num painel nos dois dias em que a música, os compositores, os intérpretes, o público estiveram, de facto, no divã.

7 comentários:

Margarida Alegria disse...

ui... às tantas comentei mesmo duas vezes... ups!

Margarida Alegria disse...

O "Maestro" Lobo Antunes tinha de falar de qualquer coisa, na sua conferência! LOL
Quando li o título, pensei que ia falar sobre a presença da música na sala de operações, tão frequente. Especialmente a música clássica.
Afinal optou por falar de si.ok!, enfim...
"a malta da corda"??? quem é?

Unknown disse...

acho que faço musicaterapia desde o ventre de minha mãe.
lindo blog!
Parabens e sucesso!

Liliana Gonçalves disse...

Boa noite Margarida,

Eu como terapeuta, fico sempre um pouco 'saturada' (já para não dizer outra coisa), com estas conferências em que é sempre muita parra (Doutores Lobos) e pouca uva (partilha de conhecimento). Desde que o António Damásio decidiu chamar todo o conhecimento antigo da filosofia e dar-lhe forma na neuropsicologia, que a seguir os discípulos põem-se a papaguear o que ele disse, não dando continuidade ao que ele quis que acontecesse.

No terreno, é a experiência do musicoterapeuta com os casos e os percursos e dificuldades, não a 'musiquinha' na sala de operações que nos dá o prolongamento real dos benefícios e formas de intervir...mas pronto, como tudo neste país, as conferências são feitas para peixe graúdo falar...mesmo quando o que de diz acrescenta muito pouco.


Gostei do seu espaço. Obrigada pela partilha de informação. A nós terapeutas, sempre ajuda.

Cumprimentos.

Margarida Azevedo disse...

Priscila Lima, só hoje li o seu comentário!

Muito obrigada!!!!!
Apareça sempre e ... que sorte a sua ter a música como aliada desde tão cedo!

Bjinho

Margarida Azevedo disse...

Margarida Alegria, a +mata da corda' neste caso referia-se ao Sérgio Godinho.

Margarida Azevedo disse...

Beatriz,

gostei muito do seu comentário e subscrevo-o.

Tenho pena de não estar com tempo para continuar a investigar nesta área mas o mundo do comum dos mortais é assim ...

Abraço!
M.

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